quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Jogo da moeda

Contigo tive, durante meses, vida dupla. Habituei-me a pôr uma peruca e uma máscara e vivi uma vida contigo que não a mesma que comigo. Entende-me, esqueci-me de quem era e tornei-me quem querias que eu fosse. Se me querias loira, fui morena para com todos os outros. Quando me quiseste magra, engordei vergonha de ti e emagreci de auto-consideração. Se me querias bonita - porque foi requisito teu - fui-o mais para com todos os outros. Entrei num jogo doentio, beco sem saída, fui dois lados de uma só moeda. Fui pau de dois gumes, assassinei-me por um amor cego - o teu. «Cego», sim, porque nunca me viste realmente. «Amor» já não o sei tão seguramente. Querias-me coroa, vias-me rainha, e eu só te queria mostrar a cara. Deixar que me caísse a máscara e revelar-te os meus caracóis castanhos, o meu corpo a nu. O meu - e não o que vi transformado por ti. Para ti. Contigo. Hoje encaro o espelho e estaco assustada com o meu próprio reflexo. Entende-me, esqueci-me de quem sou

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