há sempre um desconforto na noite que me faz marcar no telemóvel o inicio do teu número. depois paro, paro sempre. tenho saudades tuas. às vezes forço os meus limites e quando os sintomas de cansaço vêm, tendo a amordaçá-los em silêncio. aguento-os. mais tarde acaba por chegar a factura de mingar a cada badalada de meia-noite. e aí dá-me uma vontade danada de te contar as merdas todas onde me meti, de te dizer que estou cansada, de te pedir que pares o mundo um bocadinho para mim. mas não ligo, não te convido para um café, nem te escrevo ainda que saiba que és tu que me guardas as respostas a todas as minhas dores. tenho tirado a tampa do meu tacho e dito a meia voz que estou a ficar cansada, mas ninguém me conhece como tu para me levar a sério, ninguém entende que os floreados da realidade às vezes assustam-me mais do que os veredictos, ninguém sabe dizer-me de uma rajada que eu não sou de ferro enquanto me vê bambalear ao vento, ninguém sabe como tu deixar-me chorar e dizer-me que não faz mal ter medo ao invés de me dizer que têm muita fé em mim e que tudo vai ficar tudo bem. que se dane a fé!
Eu precisava de te escutar de voz dura, um tanto ou quanto desiludida comigo, a elaborar-me planos realistas de acção e a relembrar-me pela milésima vez que eu não posso continuar com a ilusão de ser tão dura quando toda eu sou tão frágil !! Um dia a bolha rebenta. Eu precisava de te ouvir dizer tudo isto de voz ríspida porque não mo posso dizer a mim. tenho tantas saudades tuas. marco o inicio do teu número e depois paro, paro sempre. escolho uma foto em que me olhes nos olhos e escuto-te dentro da minha cabeça. digo-te que tens razão. mas não te ligo porque estás feliz e eu não quero que tenhas de representar o papel de vilã para no fim, me dizeres num sussurro que vamos fazer de determinado jeito porque merecemos finais felizes. que se dane a noite!
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