É tudo ao mesmo tempo. Sinto-me a despedaçar. Todos me abandonam aos poucos, tu abandonas-te e nao voltas. Os outro, abandonam e ficam cá a atormentar-me mas tu.. Custa. Custa saber que nunca mais verei a tua letra longa e apertada e que, muito pior, nunca mais ouvirei o som da tua voz.
Penso em ti quando como chocolate branco e na maneira como os teus olhos brilhantes se arregalavam e os cantos da tua boca se inclinavam para cima quando saboreavas um desses pedacinhos de céu, que sempre foram a nossa perdição, como se não houvesse amanhã. Agora não há, nem amanhã nem o dia a seguir nem o que vem depois desse ou o posterior. Agora simplesmente não há depois, o amanhã é vazio, oco. Nunca mais acontecerá. E é com esta realidade que eu arrisco dizer que já me tenho vindo a conformar. Dizem que a última fase do luto é a resignação. Não é que não me custe, porque acredita que continua a ser horrível encarar a perda assim que me levanto e pouso os pés no chão todas as manhãs, só eu sei o quanto dói não te ter aqui comigo, só que agora é diferente, talvez penoso de uma outra maneira, da mais tolerável que possa haver neste tipo de situações. Difícil é de explicar, mais ainda de saber gerir.
Continuo a visitar-te e a pensar em ti, faço-o todos os dias, mas agora é diferente. Ainda te tento adivinhar a expressão que te terá atravessado o rosto no último instante. Muitas vezes me pergunto como terás escolhido partir. Eu, pessoalmente, espero que não tenhas partido com a cabeça concentrada nas coisas más e consumido pelo vazio que se tinha vindo a apoderar de ti nos últimos tempos. Faz-me confusão não saber se choraste e se não te lembraste de mim, se calhar é o egoísmo a falar mais alto, mas pensaste em nós, os de sangue? Ou inspiraste fundo naquele que terá sido o momento mais decisivo da tua curta vida e simplesmente sorriste por pensar que, finalmente, irias ter paz? Espero que tenhas conseguido alcançar a paz de espírito que não encontraste cá em baixo e por que tanto ansiavas, a mesma que certamente te atormentava. Espero e acredito que o tenhas feito.
O facto de não te ter dito aquilo que achava e que tu tanto precisavas de ouvir revolta-me ainda mais e é o meu maior arrependimento. Se ao menos eu pudesse voltar atrás no tempo... Julguei que, ao não aprofundar certos assuntos, te estaria a poupar. Desculpa ter-me enganado, afinal de contas julguei mal. Podia ter-te dado a minha opinião mais sincera que, coincidência ou não, sei que era o que terias gostado de ouvir, mas não te quis martirizar e preferi distrair-te. Perdoa-me por isso.
Sabes, cresci muito à custa de tudo isto. Aprendi a não guardar palavras, mesmo que mais tarde as escreva, e muito menos sentimentos. Agora quando sinto digo e pronto. Não economizo nos vocábulos nem escolho momentos certos porque esses, não existem. Tão-pouco evito falar quando, por vezes, ainda vacilo. Mas não existe o dia perfeito, a hora H é aquela e o tempo adequado é ali, quando e onde se sente. Existe, sim, a opinião, o sentimento e a vontade. E isso basta. A oportunidade é vã e a vida não espera. Somos nós quem tem de a acompanhar e não o contrário e esta foi uma entre as muitas outras coisas que tu me ensinaste. Ensinaste-me a dizer o quão gosto das pessoas na altura porque, se gostamos, mesmo que tenhamos as maiores certezas do mundo em como elas ficarão connosco até ao fim, nem isso é certo nesta vida e poucas são as coisas permanentes. Não convém omitir nem há por que deixar para depois. Depois podemos já cá não estar. Depois O momento, o ali, que é quando e onde se sente, esquiva-se-nos por entre os dedos e só nos vemos tentados a agarrá-lo quando já há muito o perdemos.
Se ao menos tivesses sido um bocadinho mais explícito, eu ter-te-ia correspondido de uma outra maneira, de uma forma mil vezes melhor, mas tu sempre me conseguiste dar a volta e fizeste mais do que tudo para não levantar a mínima suspeita. Nisso sempre fomos parecidos, podemos demorar a fazer planos, mas quando os concretizamos é a valer. Se algum de nós tivesse desconfiado, tu não terias tido coragem, pois não?
Só te tenho a dizer que lamento, mais do que já alguma vez lamentei o que quer que fosse, que a tua ausência é das maiores dores que já me dilaceraram o peito e que a tua perda, irreversível como O momento, vai assombrar-me pela minha vida fora. As saudades que tenho tuas ultrapassam oceanos. É como diz a música, “a saudade é do tamanho de um prédio” .
Apenas espero, um dia, encontrar-te tal como tu acreditavas ser possível – e como eu, estúpida, não percebi logo – e, quando isso acontecer, sei que as minhas perguntas vão cessar e não vou querer saber de mais nada que não seja abraçar-te até te levar à exaustão. Vou dizer-te, todos os dias, o quão é que te adoro e vou seguir-te para todo o lado, como sempre fiz até que não mais me foi permitido, até ao derradeiro dia.
Espera por mim, aí em cima *
Se soubesses a falta que me fazes para te contar os meus problemas, para me dares os teus conselhos, para me servires de apoio forte e robusto : x Precisava tanto do meu apoio nestes ultimos dias.
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